quarta-feira, 17 de julho de 2013

Jornada Mundial da Juventude: O que devemos saber?



A Jornada Mundial da Juventude (JMJ) é um encontro que reúne milhares ou mesmo milhões de jovens. É realizado pela Igreja Católica, a cada dois ou três anos, e tem como objetivo passar a mensagem da Igreja aos jovens.
Apesar de ser um encontro entre jovens, realizado pela Igreja Católica, a JMJ vem sendo alvo de muitas discussões. Entre elas, os gastos do governo federal, estadual  e da prefeitura do Rio de Janeiro.

Gastos do governo

Segundo cálculos os três órgãos federais juntos, gastarão cerca de R$ 118 milhões durante os 6 dias. Sendo R$ 62 milhões desembolsados pelo governo federal, dos quais R$ 30 milhões serão destinados a ações de segurança e defesa, que são a principal preocupação do governo.  Estado e município darão R$ 28 milhões cada. Gastos que serão investigados pelo ministério público, que já instaurou um inquérito para investigar os gastos.
O governo trabalha com uma estimativa de que a Igreja arrecadará cerca de R$ 140 milhões só com a taxa de inscrição dos participantes do evento, contando que entre 350 mil e 450 mil pessoas se inscrevam para o evento.  Já a Igreja, espera 800 mil pessoas inscritas para o evento, o que dobraria os cálculos dos ganhos com inscrições, feitos pelo governo.
A igreja terá apenas que bancar a estrutura do evento e a hospedagem dos peregrinos. Entretanto arrecadará, só com a taxa de inscrição, mais do que o governo federal irá gastar. O que nos faz pensar o porquê de o governo gastar todo esse dinheiro?!
Entretanto, quem trabalha na organização do evento justifica os gastos lembrando os gastos em Madri na Espanha, sede da jornada em 2011, quando dois milhões de peregrinos se reuniram na capital espanhola. Os gastos do governo também ultrapassaram R$ 100 milhões, mas a arrecadação gerada pelos jovens no país superou as despesas em 200%. Entretanto segundo o jornal El País a JMJ em Madrid teve um saldo para o governo Espanhol de 254 milhões de euros.
Jornal El País em matéria sobre os gastos com a JMJ em Madrid, na Espanha.

O governo federal  ainda deverá ceder um avião Hércules para que transportem-se os dois papamóveis  do Rio para Aparecida, onde o Papa deverá celebrar  uma missa. E essa operação custará aos cofres públicos R$ 1 milhão.

Os investimentos do governo ferem a laicidade do estado?

Uma das maiores polêmicas dos investimentos do governo federal é quanto à laicidade do estado. Estaria o governo sendo inconstitucional e ferindo a laicidade do estado?
Basicamente um estado laico ou secular, seria um estado neutro no campo religioso. Sendo imparcial em assuntos religiosos e não apoiando ou descriminando qualquer religião.
Um Estado laico defende a liberdade religiosa a todos os seus cidadãos e não permite a interferência de correntes religiosas em matérias sociopolíticas e culturais.
O Brasil é oficialmente um Estado laico, pois a Constituição Brasileira e outras legislações preveem a liberdade de crença religiosa aos cidadãos, além de proteção e respeito às manifestações religiosas.
No artigo 5º da Constituição Brasileira (1988) está escrito:
“VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”
Contudo, a laicidade do Estado pressupõe a não intervenção da Igreja no Estado, e um aspecto que contraria essa postura é o ensino religioso nas escolas públicas brasileiras.
E será que os investimentos da JMJ ferem a laicidade do estado?
Bom, temos R$ 118 milhões de reais investidos pelo governo para a vinda de um líder religioso e para a realização de um evento religioso de origem Cristã.
São R$ 118 milhões de reais, dos quais vieram do evangélico, da pessoa que frequenta a religião de matriz africana, da pessoa que não tem crença nenhuma e não frequenta nenhuma igreja e etc. Será que todo o brasileiro é de acordo com o evento realizado pela Igreja Católica?
Mais além, será que o governo investe da mesma maneira em eventos de outras ordens religiosas? Será que todas as outras religiões terão acesso ao evento organizado pela Igreja Católica?
Com isso, manifestações estão sendo organizadas em apoio ao estado laico, como o Desbatismo realizado pela ATEA.
Há também os comentários a favor dos investimentos, prezando que o governo é uma instituição capitalista e para crescer deve fazer investimentos e esperar o seu retorno. Com isso, o exemplo de Madrid na Espanha se encaixa perfeitamente, já que a cidade faturou cerca de R$ 950 milhões (cerca de 354 milhões de euros) segundo os cálculos da PricewaterhouseCoopers.
O próprio Papa é chefe de estado e com isso, os gastos em segurança não feririam a laicidade do estado, já que pela diplomacia devemos manter a segurança dos lideres de outros estados, já que qualquer outro líder de estado que viesse ao Brasil, teria apoio dos poderes Federais, Estaduais e Municipais.
Logo, temos vemos muitas divergências em relação ao assunto. E só temos que respeitar(afinal estamos em um estado laico) e torcer para que o evento dê certo e o governo consiga recuperar o dinheiro público investido.
Sendo que evento serve como teste para os próximos grandes eventos que irão ocorrer no Rio de Janeiro, como a Copa do Mundo e as Olimpíadas, que são outros dois assuntos que geram muita polêmica. E você, qual sua opinião sobre a JMJ?

Um comentário:

  1. Sempre que o assunto tratar da religião católica, este será polêmico.
    No caso, não creio que os gastos do governo estejam errados e nem fere a laicidade do Estado. Creio que os argumentos apresentados no texto explicitam muito bem isso.
    Quando existem eventos de outras religiões com o mesmo porte, o Estado também está presente nas atribuições que lhe são peculiares, principalmente para garantir o bem estar dos participantes.
    Mas é verdade também que o Brasil ainda não convive com esta realidade plenamente. Isto porque, ao longo de toda a sua história, o país sempre foi católico e apenas após a nova Constituição que isso não acontece.
    Então, existem vários outros exemplos desta mistura cultural que ainda não foi bem dividida. Um exemplo é a Catedral de Brasília. Monumento que é patrimônio cultural da humanidade, esta só serve aos cultos católicos, apesar de ser constantemente bancada pelo Governo quando necessita de reforma. Reforma feita com dinheiro público, mas que não atende aos cidadãos de outras religiões.
    Minha opinião é que, a partir do momento em que o Brasil se tornou um país laico, templos como este deveriam ser ecumênicos. Até porque não falta dinheiro para a Igreja para fazer as devidas manutenções oriundas do constante uso do espaço.

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